A Polícia Federal (PF) identificou fortes indícios de que os R$ 48,7 milhões pagos pelo Consórcio Nordeste em 2020 para a compra de respiradores pulmonares, que nunca foram entregues, foram desviados pela empresa contratada. À época, o Consórcio era presidido por Rui Costa, então governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil. Segundo as investigações, parte do valor público foi utilizada para despesas pessoais, como compra de veículos e pagamento de faturas de cartão de crédito.
O UOL teve acesso exclusivo a detalhes inéditos do inquérito. Conforme apuração da PF, em um período de pouco mais de um mês — entre abril e maio de 2020 — a empresa Hempcare, responsável pelo fornecimento dos respiradores, transferiu integralmente os recursos para diversas pessoas e empresas sem qualquer vínculo com a aquisição dos equipamentos.
O rastreamento bancário revelou que o dinheiro público foi pulverizado rapidamente: beneficiários usaram os valores para a aquisição de bens como automóveis de luxo, incluindo um SUV Volkswagen Touareg, um caminhão Mercedes-Benz Accelo 815 e um Mitsubishi ASX, além do pagamento de mensalidades escolares e de dívidas de cartão de crédito que somaram cerca de R$ 150 mil.
A PF ainda apontou que pelo menos R$ 5 milhões foram transferidos para empresas ligadas aos setores de administração de bens, imóveis e fundos de investimento, sem qualquer relação com o fornecimento dos ventiladores.
Apesar do pagamento antecipado ter sido assinado por Rui Costa, a empresa Hempcare não tinha experiência na venda de equipamentos médicos — sua especialidade era medicamentos à base de cannabis. O contrato previa a entrega dos respiradores, o que nunca aconteceu, e até hoje o dinheiro não foi totalmente recuperado.
Recentemente, o Tribunal de Contas da União (TCU) absolveu Carlos Gabas, ex-secretário-executivo do Consórcio Nordeste, responsável por emitir os empenhos para o pagamento, mesmo diante de pareceres técnicos que indicavam falhas no processo e recomendavam penalidades.
O inquérito policial segue em andamento. No início deste mês, a Justiça Federal da Bahia determinou o retorno da investigação ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em função da nova interpretação sobre o foro privilegiado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Vale lembrar que, em 2023, o UOL revelou que Cristiana Taddeo, dona da Hempcare, admitiu em delação premiada ter repassado comissões milionárias a um lobista que afirmava ter proximidade com Rui Costa e com a então primeira-dama da Bahia, Aline Peixoto.
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