O impacto das restrições orçamentárias já começa a ser sentido em instituições públicas importantes, afetando diretamente serviços prestados à população e setores estratégicos da economia. Com mais de 90% do orçamento federal comprometido com despesas obrigatórias, sobra pouco espaço para investimentos e manutenção, o que agrava os problemas em órgãos como o INSS, universidades federais, agências reguladoras e as Forças Armadas.
Somente neste ano, o governo precisou bloquear R$ 31,3 bilhões do orçamento, devido à combinação de arrecadação abaixo do esperado e aumento de despesas. Essa cifra representa 14,1% dos recursos discricionários — ou seja, aqueles que o governo pode usar para custeio e investimentos — e o valor pode crescer ainda mais após a revogação do decreto que elevava o IOF.
Entre os mais afetados estão as agências reguladoras, que sofreram, em média, um corte de 25% em seus orçamentos para este ano, agravando as limitações financeiras que essas instituições já enfrentam há anos.
Atendimento do INSS sofre com filas cada vez maiores
A escassez de pessoal e de recursos está diretamente ligada ao crescimento da fila de solicitações no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O número de processos em aberto começou o ano em cerca de 2,3 milhões e saltou para 2,6 milhões em abril, conforme dados do próprio órgão. Durante a elaboração do orçamento de 2024, o INSS já havia alertado sobre a necessidade urgente de mais verba para garantir o funcionamento do sistema previdenciário.
Universidades federais enfrentam crises estruturais
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é um dos exemplos mais visíveis da precariedade provocada pela falta de recursos. Em novembro do ano passado, 15 prédios da instituição ficaram sem energia elétrica após o corte de fornecimento devido ao atraso no pagamento das contas. No mesmo período, o abastecimento de água também foi suspenso em vários pontos do campus. Foi necessário um repasse emergencial de R$ 1,5 milhão do Ministério da Educação para normalizar a situação. Recentemente, parte do muro do Colégio de Aplicação da UFRJ (CAp-UFRJ), localizado na Lagoa, desabou, ilustrando a situação crítica.
Orçamento das Forças Armadas também está em xeque
O cenário de restrições financeiras afeta também as Forças Armadas, especialmente em áreas que dependem de investimentos. Grande parte do orçamento militar está destinada ao pagamento de salários, o que limita as ações voltadas à modernização e operação das tropas.
Aeronáutica prevê atrasos em projetos estratégicos
Na Força Aérea Brasileira (FAB), o corte de recursos pode atrasar a entrega dos caças Gripen, fabricados pela sueca Saab, e dos aviões de transporte KC-390, da Embraer. Segundo fontes militares, o objetivo é evitar que os bloqueios comprometam atividades essenciais como defesa aérea, missões de resgate e transporte de órgãos. Em nota, a Aeronáutica reconheceu que os cortes afetaram praticamente todas as áreas da instituição, incluindo operações, logística e administração. Além disso, sete das dez aeronaves utilizadas no transporte de autoridades estão paradas por falta de verba para manutenção e combustível.
Exército enfrenta atraso no monitoramento de fronteiras
O Exército, por sua vez, precisará postergar ainda mais o cronograma do Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), projeto considerado estratégico para o país. A iniciativa, que envolve a compra de radares e outros equipamentos, deveria ter sido concluída em 2021, mas agora só deve ser finalizada em 2039, com um custo que pode superar em R$ 4 bilhões a estimativa inicial de R$ 11 bilhões. Outro desafio para a instituição é a preparação para o primeiro alistamento feminino em larga escala, que pode ser prejudicado pela falta de recursos para adaptar alojamentos e banheiros.
Marinha sofre com orçamento reduzido
A Marinha também enfrenta dificuldades, com uma redução de aproximadamente 60% em seu orçamento na última década, passando de R$ 7 bilhões para R$ 3 bilhões, em valores atualizados. Essa queda compromete diretamente a manutenção de navios, aeronaves e equipamentos do Corpo de Fuzileiros Navais. A situação se torna ainda mais preocupante diante da recente ampliação da área marítima brasileira, reconhecida pela ONU em março de 2025, que adicionou 360 mil km² ao território nacional. Segundo a Marinha, sem reforço financeiro, o Brasil pode perder cerca de 40% de sua frota naval até 2028. Para evitar isso, a instituição calcula que seriam necessários pelo menos R$ 20 bilhões em investimentos para dar continuidade aos projetos de desenvolvimento de submarinos e garantir as operações no mar.
Conclusão
Diante desse cenário, cresce a preocupação com a capacidade do Estado brasileiro de manter serviços essenciais e projetos estratégicos em funcionamento. Sem uma solução para a crise orçamentária, o prejuízo pode se refletir tanto no cotidiano da população quanto na soberania e segurança nacional.
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